Artigo: Cearenses audaciosos-Narcélio Lima Verde

O Edmilson Silva, chefe escoteiro no Ceará, estava eufórico porque a Assembléia Legislativa programou homenagem aos cem anos de fundação do Movimento Escotista em nosso Estado, iniciativa do deputado Hermínio Rezende. Não pude comparecer e me justifiquei. Meu pai foi escoteiro, daí o convite. José Limaverde Sobrinho, foi escoteiro nos idos de 1923, e nessa condição empreendeu uma heróica viagem a pé até São Paulo. O jornalista Wilson Ibiapina, hoje em Brasília, comentando em reportagem, em 1986, essa saga, disse que “ a temerosa excursão, a mais audaciosa e, talvez, a maior até hoje realizada no Brasil, foi proeza de três jovens escoteiros cearenses: José Limaverde Sobrinho, Artur Batista Nepomuceno e Manoel Bastos de Oliveira.

Tudo foi narrado num livro, escrito em São Paulo, 1925, por um dos heróis, Batista Nepomuceno. Foram eles os pés de araras, antecessores dos paus-de-araras, escreveu Wilson. Como a nossa memória é bastante curta há quem, lendo este comentário, duvide do acontecido. Não ofende pois certo dia, uma das netas, Luciana, falou que contara a história e alguém teria duvidado. Ofereci então jornais da época para que a verdade fosse constatada. Pois foi assim, meu pai, com 23 anos de idade, ainda muito longe de se casar com dona Ledinha, resolveu partir para a grande aventura.

Ele julgava que era dever dos cearenses mostrar de que fibra são feitos. Limaverde acabava de fazer concurso para o Banco do Brasil, emprego importantíssimo na época. Aprovado com distinção foi convidado a assumir o cargo. Não aceitou. Dera sua palavra e cumpriria, ia à São Paulo a pé, perdendo o emprego. A viagem começou no dia 02 de dezembro de 1923. Saíram os escoteiros da Praça José de Alencar, então Praça Marquês de Herval, em frente ao prédio da Fênix Caixeiral, hoje demolido. Levavam um passômetro, contador de passos que, registrou ao final 7.207.335 passos durante 183 dias, 17 horas e 24 minutos.

Mais de oitocentas léguas a pé enfrentando cangaceiros, frio, fome, animais selvagens. Depois do livro 800 léguas a pé, de Artur Batista Nepomuceno (Edições Melhoramentos), José Limaverde também escreveu sobre o raid Ceará-São Paulo. Não foi publicado.

Guardo esse episódio para, na hipótese de alguém um dia, desejar saber porque é que existe a avenida radialista José Limaverde, Barra do Ceará, orgulhosamente falarei na sua profissão no rádio, onde defendeu e reviveu os grandes sucessos da música popular brasileira, do passado no Cousas Que o Tempo Levou, Hora da Saudade, quando não havia gravadores e ele mesmo, como músico, em contato com mais velhos escrevia a partitura musical para ser executada no programa.

E se não bastasse reviverei o heróico raid Ceará-São Paulo, lamentando que não haja mais no Museu Histórico do Estado a desaparecida documentação que existia sobre o histórico feito dos escoteiros cearenses.

Comentários

Asclléppios disse…
Igor, preciso falar contigo. Como podemos fazer? Tenho interesse nesta ida, a pé, dos escoteiros para o Rio de Janeiro em 1923. Meu ti-bisavô, o Manoel Palmela Bastos de Oliveira foi junto na equipe de escoteiros junto ao seu bisavô, o Limaverde Sobrinho. Conheço muito o Narcélio Limaverde. Meu amigo.

meu e-mail:

jose.carlos1000@yahoo.com

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